Aviso: este post corre o risco de ficar obsoleto pouco tempo depois de publicado 🙂

Depois de várias semanas a ler sobre o ChatGPT e a ver o hype crescer, finalmente registei-me, mas não posso dizer que tenha ficado muito impressionado. Se não tivesse lido tanto sobre o tema, de certeza que ficaria; contudo, foi crescendo em mim um entusiasmo com as potenciais aplicações para me apoiar na investigação, compilação de sínteses bibliográficas e recolha de dados, que o resultado dos primeiros testes, foi desanimador.

O primeiro obstáculo que me fez atrasar o registo por várias semanas, foi o sistema requerer um número de telefone móvel para enviar uma chave de confirmação por sms. Naturalmente, não tenho grande vontade de dar o meu número a um sistema de AI ainda obscuro, sabe-se lá com que fim, outro que o de apenas o envio do código de registo. Decidi comprar um numero esim canadiano. Erro. Não funcionou o envio do sms de confirmação, talvez por conflito entre o IP do PC e o registo do número. Na altura ainda pensei em entrar por VPN através do Canadá, mas a ligação não estava a funcionar e desisti. Entretanto, encontrei um SIM grátis perdido na mochila. Trouxe de volta à vida um velho telemóvel e, finalmente, registei-me.

O que o ChatGPT já faz é impressionante e, na verdade, abre excelentes perspetivas no apoio à ciência. Levanta também preocupações enormes com o potencial do sistema de AI e com o que aí vem, mas gera também entusiasmo com o que se vai ganhar na velocidade de análise de dados e de procura de informação. Pergunto-me mesmo se muitos dos usos das linguagens de programação não serão muito rapidamente substituídos por sistemas como este, muito mais fáceis de usar e acessiveis a todos… O atual sistema já consegue propôr linhas de código para resolver problemas, melhorar linhas de código, propôr soluções para correções diversas e criar anotações que expliquem os vários passos das mesmas. Há vários artigos sobre isso. Outras tarefas que dão resultados muito interessantes, são a capacidade de criar estórias usando diversos estilos e ir melhorando em função de comentários que vamos adicionando ao pedido inicial. Sobre isto li um pouco, mas não testei demasiado.

Nesta primeira abordagem, importava-me perceber como poderia usar o ChatGPT no apoio à minha investigação e, em especial, ajudar na gestão da enorme maré de informação científica que se vai gerando. A enorme maré que me afoga e que invade o email todas as manhãs, com novos artigos, muitas vezes tão interessantes, mas para os quais não tenho tempo para ler. Sonho com um sistema de AI que me faça sínteses bibliográficas sobre as novidades mais relevantes a partir da pesquisa de temas específicos. E deve estar para próximo, mas ainda não é o ChatGPT no final de janeiro de 2023. Talvez daqui a uns meses ou anos, tal é a velocidade a que isto vai…

Trocando as coisas por miúdos, experimentei pedir algumas coisas mais específicas a nível da minha investigação e outras mais genéricas. Desta abordagem, com alguns exemplos, concluo que:

1) Facilmente apresenta definições, mas isso também faz o google. Tem a vantagem de podermos pedir a fonte e ir acrescentando detalhes ao pedido.

What is a glacial cirque?
A glacial cirque is a bowl-shaped depression in the side of a mountain which is formed by a glacier. These depressions are typically steep-sided and surrounded by tall cliffs.

2) Apresenta dados científicos errados, usando generalizações de conhecimentos à escala global para situações específicas, o que indica que não leu ou não assimila o conhecimento científico, separando o essencial do assessório. É possível que com o treino de especialistas, que o sistema aceita no final de cada consulta, indicando-se se se está satisfeito ou não com o resultado, a coisa melhore.

When was the maximum glacier extent in the serra da estrela Portugal?
The maximum glacier extent in the Serra da Estrela Portugal occurred between 15,000 and 20,000 years ago.

Aqui, a resposta seria 140 mil anos, ou 30 mil anos, se usássemos o máximo local da última glaciação.

Se adicionarmos para nos indicar o mesmo, de acordo com um autor, o resultado muda, mas não melhora. Parece mais convincente, mas está errado e não há fonte nenhuma em que estas datas estejam indicadas ditas por Vieira…espero eu…

When was the maximum glacier extent in the serra da estrela portugal according to vieira
According to research conducted by Vieira, the maximum glacier extent in the Serra da Estrela occurred in the late Pleistocene, during the Last Glacial Maximum (LGM) period, approximately 18,000–21,000 years ago.

3) Faz uns textos impressionantes ao estilo de revisão de literatura e que, no essencial estão corretos, mas têm muitas generalidades que estão longe do estado da arte e não servem ainda para a investigação. Mas o texto que apresento em baixo foi feito em poucos segundos. Ou seja, com isto, qualquer um pode fazê-lo e, de facto, vai ser amplamente usado pelos estudantes. Põe problemas para a avaliação de conhecimentos? Põe! Mas é preciso encontrar formas alternativas de avaliar esses conhecimentos e com a melhoria destes sistemas, vamos encontrar formas excelentes de os usar e, com isso, melhorar a aprendizagem. Põe em risco muitas profissões? Põe! Mas aquelas profissões baseadas no conhecimento, e não apenas no uso de técnicas, vão-se manter como essenciais e até ser valorizadas. Isto, porque muitas vezes não chega apenas responder às questões, mas sim, saber quais são as questões certas a fazer. Isso é fundamental e vai ser cada vez mais. Tenho notado com preocupação que cada vez mais os estudantes têm mais dificuldade em construir novas questões e criar conhecimento, crescendo sobre as suas próprias questões. De facto, conseguem responder a muitas questões e resolver problemas usando receitas conhecidas; mas a dificuldade com as novas perguntas é tal, que até se assustam com os problemas novos por elas levantados. Obviamente, isto não se aplica a todos, mas parece-me que se tem vindo a generalizar.

Cá vai um destes textos, sobre a ilha Livingston, onde trabalho no Antártida. Está cheio de generalidades e que não específicas daquela ilha, nem mesmo se aplicam muito bem, mas não estão demasiado erradas e impressionam:

Do me a literature review of permafrost in Livingston Island Antarctica

Introduction Livingston Island is a part of the South Shetland Islands, located in the Antarctic Peninsula. The island has a unique environment due to its extreme cold climate and the presence of permafrost. Permafrost is defined as ground that is permanently frozen to a depth of several meters or more. Permafrost on Livingston Island is an important component of the island’s environment, affecting its local climate, geology, and ecology. This literature review examines the current state of knowledge about permafrost on Livingston Island and its potential impacts. Climate Livingston Island has a cold climate, with temperatures ranging from -2°C to 8°C in the summer and -10°C to -15°C in the winter. The island is also subject to strong winds and snowfall. These cold temperatures and frequent snowfall contribute to the presence of permafrost on the island. Geology Permafrost on Livingston Island is largely composed of sedimentary deposits, including sandstone, shale, and clays. The permafrost is generally shallow, reaching a maximum depth of five meters below the surface. The permafrost is also heterogeneous, with different layers of sediment having different levels of ice content. Ecology The presence of permafrost on Livingston Island has both positive and negative impacts on the local ecology. On the one hand, the permafrost helps to maintain cold temperatures in the environment, which is beneficial for many species of plants and animals. On the other hand, permafrost can also have a negative impact on the environment, as it can impede the growth of vegetation and disrupt the natural hydrology of the island. Impacts Permafrost on Livingston Island is subject to rapid melting due to climate change. This melting can have a number of impacts on the local environment, including increased flooding and erosion, changes in the local hydrology, and disruption of the natural ecology. In addition, the melting of permafrost can also release large amounts of carbon dioxide and methane into the atmosphere, contributing to global climate change. Conclusion Livingston Island is a unique environment, characterized by cold temperatures and the presence of permafrost. Permafrost on the island is an important component of the local environment, affecting its climate, geology, and ecology. However, the permafrost is vulnerable to the impacts of climate change, which can lead to flooding, erosion, and disruption of the local ecology. It is therefore important to monitor the changes in permafrost on Livingston Island in order to understand and mitigate these impacts.

E agora a mesma questão, mas pedindo para que a resposta seja mais científica:

Do a scientific style synthesis of permafrost in Livingston island antarctica
Permafrost is a unique and important feature of Livingston Island, Antarctica. It is a layer of soil that is frozen for a period of two or more years. Permafrost plays a key role in the environment of Antarctic regions and has an influence on the geology, hydrology, and ecology of the region. Geologically, permafrost is important because it prevents the erosion of the surface soil. It also helps to preserve the topography of the region, which can provide an indication of the past geological history. This can be useful in determining how the climate and environment of the area has changed over time. Hydrologically, permafrost can have an impact on the water cycle within the area. It affects the availability and movement of water, as well as its quality. As the permafrost melts, it can lead to the release of excess water, which can then cause flooding in the area. Ecologically, permafrost is an important component of the environment. It provides a stable habitat for a variety of animals, including penguins, seals, and polar bears. The melting of permafrost can also lead to changes in the availability of food sources, which can affect the population of these species. In conclusion, permafrost is a crucial feature of Livingston Island, Antarctica. It has a major impact on the geology, hydrology, and ecology of the area, and understanding its importance is essential for the preservation of the environment and the species that inhabit it.

4) Testei também a capacidade de procura de dados. Lá procurar, procura. Até encontra vários, mas a maior parte do que pesquisei estava completamente errado. Não vou colocar exemplos, mas pesquisei dados de temperaturas de permafrost errados. Depois pedi para adicionar a fonte, indicou uma fonte credível, mas os dados continuavam errados. Pedi dados de camada ativa para um observatório da rede que coordeno, indiquei a fonte, e mandou uma série de dados…completamente errados. Apenas uma série de dados de temperatura do ar para Lisboa/Geofísico, me pareceram próximos da realidade, e vinha citado o IPMA como fonte, mas não fui confrontar com a base de dados originais. Em síntese, para procura de dados, o sistema é muito perigoso. Talvez por ser imaturo. Mas tenho esperança que a coisa melhore, talvez incluindo alguns selos de qualidade sobre as fontes…?

5) No que o ChatGPT é mesmo bom é a fazer histórias, embora haja algumas passagens estranhas. Mas é muito interessante o que escreve. Eh eh! Leiam estas.

Write a short story about permafrost in the world
The world was a vastly different place now. The planet had changed dramatically since the permafrost had melted. Once, the frozen tundra had been a source of sustenance and security for many, providing them with the means to survive. But with the rapid thawing of the permafrost, that security was gone. The ice melted, leaving behind vast swaths of water and mud. This, in turn, caused the release of methane and carbon dioxide, further contributing to the global climate crisis. The people living in the permafrost regions were some of the most severely impacted. With much of their land now covered in water, they were forced to relocate, many of them to nearby cities. Those cities were not prepared for the influx of people, and were soon overwhelmed by the numbers. The people living in these new settlements were often living on the edge, with limited resources and few opportunities. Meanwhile, the world continued to heat up. The permafrost had been a buffer against global warming, trapping carbon dioxide and methane in the ground. Now, without the permafrost, these gases were released into the atmosphere, further contributing to the climate crisis. As the world grappled with the consequences of the permafrost melting, the people affected by it had to make the best of their new circumstances. Some of them were able to find new homes and new opportunities, while others continued to struggle. But all of them had to confront the reality of a world that was changed forever.

Se pedir para escrever ao estilo de conto de terror:

Write a short story about permafrost in the world in terror style
The world was already in a state of terror. But when the permafrost began to melt, it felt like the end of the world. The Arctic ice had been melting for years, but this was different. This was the permafrost, and it was quickly disappearing. Scientists were baffled by the rapid thawing and couldn’t explain it. They warned of the catastrophic consequences of this rapid melting. The permafrost was home to a vast array of life, from microscopic organisms to large mammals. As it melted, these creatures were displaced, and their habitats destroyed. The melting permafrost caused methane and carbon dioxide to be released into the atmosphere, further accelerating global warming. Low-lying areas were flooded, and crops were ruined. Entire ecosystems were being destroyed as the water levels rose. The world was in chaos. People had no idea what to do, as the permafrost continued to melt. No one could stop it, and the world was in terror of the inevitable consequences.

E faz poemas também:

write a short story about permafrost in the world in poetry style

The world is in a chill,
For permafrost is our foe,
It has become a daily drill,
For Arctic ice to grow.

Our planet is in distress,
From the Arctic permafrost,
That is causing much distress,
To the creatures we do not know.

The ice that is so strong,
Is melting faster than before,
Our planet is becoming wrong,
For the creatures that live in the core.

The ice has started to crack,
It’s melting like a slow leak,
The Arctic is turning black,
And the creatures are getting weak.

The animals are in danger,
From the melting of permafrost,
The air becoming warmer,
And the creatures are being lost.

The Arctic ice will soon be gone,
The creatures will have to flee,
The world is in a chill,
For permafrost is our foe.

E com a poesia, termino. O post já vai muito mais longo do que tinha planeado. Se o ChatGPT estivesse mais maturo e já trabalhasse em português (não verifiquei se o faz), ainda lhe pedia uma revisão aprofundada e sugestões. É que estou sem tempo de reler o texto, pelo que se tiverem muitas passagens com problemas, peço desculpa. E ainda me falta editar para colocar no blog…

O ChatGPT é desenvolvido pela OpenAI (https://openai.com/blog/chatgpt/)