Como noutros anos, contribuí para a síntese sobre o estado do clima no planeta publicada no Bulletin of the American Meteorological Society. A minha participação tem sido feita a cada dois anos, no quadro da síntese sobre o estado térmico do permafrost, em particular no que respeita às condições na Antártida. É uma contribuição ligeira para um relatório importante e de acesso aberto, que pode agora ser consultado na American Meteorological Society:
Apresento em baixo uma tradução livre do resumo do relatório.
Estado do Clima em 2018. Resumo (Tradução livre)
Fonte:
Blunden, J. and D. S. Arndt, Eds., 2019: State of the Climate in 2018. Bull. Amer. Meteor. Soc., 100 (9), Si–S305, doi:10.1175/2019BAMSStateoftheClimate.1.
Em 2018 a concentração dos principais gases de efeito de estufa libertados para a atmosfera (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso), continuou a aumentar. A média anual global de concentração de dióxido de carbono foi de 407,4+-0,1 ppm, a maior desde que há registos instrumentais e mesmo considerando os dados das carotes glaciárias, desde há 800.000 anos. Combinados, os gases de efeito de estufa e vários gases halogenados contribuem para um pouco mais de 3 W.m-2 de forçamento radiativo e representam um aumento de cerca de 43% no forçamento radiativo desde 1990. O dióxido de carbono é responsável por cerca de 65% deste valor.
Com o La Ninã fraco no início de 2018, passando para um El Niño fraco no final do ano, a temperatura global de superfície (terra e oceano), foi a quarta mais alta desde que há registo, com apenas 2015 e 2017 a serem mais quentes. Vários países europeus registaram recordes nas temperaturas anuais. Houve também mais extremos quentes e menos extremos frios do que na quase totalidade dos 68 anos desde que há registo de extremos. Madagáscar registou uma temperatura máxima recorde para março em Mondorova de 40,5 ºC, enquanto a Coreia do Sul registou uma temperatura máxima recorde de 41,0 ºC para agosto em Hongcheon. Nawabash no Paquistão, registou a mais alta temperatura de sempre, com 50,2 ºC, que poderá ser um novo recorde mundial para abril. Globalmente, a temperatura média anual da baixa troposfera, situou-se entre a 3ª e a 7ª posição mais quente, dependendo da série de dados analisada. A temperature da baixa estratosfera foi aproximadamente a 5ª mais baixa.
A temperatura de superfície (continente) do Ártico foi 1,2 ºC mais elevada do que a média de 1981-2010, empatando com as terceiras mais altas dos últimos 118 anos, atrás de 2016 e 2017. A extensão da cobertura de neve em junho foi quase metade do que ocorria há 35 anos atrás. Contudo, na Gronelândia, as temperaturas de verão regionais estiveram geralmente abaixo ou próximo da média. Adicionalmente, a monitorização por satélite de 47 glaciares na Gronelândia revelou um aumento bruto na sua área, o que ocorreu pela primeira vez desde que os registos se iniciaram em 1999. As temperaturas do permafrost aumentaram na maior parte dos observatórios do Ártico, com um aquecimento de cerca de 0,1 a 0,2 ºC entre 2017 e 2018, valores comparáveis com a maior taxa de aquecimento já observada na região.
No dia 17 de março, a extensão máxima de gelo marinho no Ártico, correspondeu a segundo valor mais baixo desde que os registos se iniciaram há 38 anos, apenas ultrapassado por 2017. A extensão mínima de 2018 foi atingida a 19 de setembro e de novo a 23 de setembro, empatando com 2008 e 2010, como o 6º ano com menos gelo marinho desde que há dados. O gelo de 1 ano (first year ice) domina a extensão o gelo marinho, correspondendo a 77% do gelo marinho de março de 2018, valor que era de 55% no anos 1980. Uma vez que o gelo marinho mais jovem, é também menos espesso, este é também mais vulnerável à fusão estival. Esta mudança na idade do gelo marinho tem contribuído para a tendência de diminuição da extensão mínima de gelo. Regionalmente, o Mar de Bering registou recordes de extensão mínima de gelo durante prativamente toda a estação fria de 2017-18.
No conjunto do continente antártico, o ano de 2018 foi mais quente do que a média. Nos pontos mais elevados do Planalto Antártico, a estação meteorológica automática de Relay (74ºS), bateu ou igualou recordes de temperatura elevada em seis médias mensais ao longo do ano, com agosto batendo o recorde em cerca de 8 ºC. Contudo, condições mais frescas no setor ocidental do Mar de Bellingshausen e no setor do Mar de Amundsen, contribuiram para uma estação com fusão estival inferior. Temperaturas da água do mar elevadas nos mares de Ross e de Weddell em 2018, contribuiram para menor extensão de gelo marinho estival, o que correspondeu à segunda menor extensão de gelo marinho desde que há registos. Apesar das condições favoráveis para a depleção do ozono, o buraco de ozono, na sua máxima extensão em setembro esteve próximo da média de 2000-2018, provavelmente devido ao declínio continuado da concentração de monóxido de cloro estratosférico.
Nos oceanos, as temperaturas médias globais de superfície desceram ligeiramente desde o ano El Niño recorde de 2016, mas estiveram claramente acima da média climatológica. Em média, as temperaturas de superfície do mar estão a aquecer a uma taxa de 0,1 +-0,01 ºC por década desde 1950. O aquecimento foi maior no Oceano Índico tropical e menor no Pacífico Norte. O oceano profundo contínua a aquecer ano, após ano. Pelo sétimo ano consecutivo, o nível médio das águas do mar global, tornou-se o mais elevado da série de 26 anos, subindo para 81 mm acima da média de 1993. Como antecipado num clima mais quente, o ciclo hidrológico sobre os oceanos está a tornar-se mais rápido: as regiões secas estão-se a tornar mais secas e as regiões húmidas, a tornar-se mais pluviosas.
Próximo do equador, 95 eventos classificados como tempestade tropical, foram observados em 2018, valor bem acima dos 82 eventos, correspondentes à média de 1981-2010. Onze ciclones tropicais atingiram a categoria 5 na escala de intensidade de Saffir-Simpson. Com uma velocidade do vento de 140 nós ao chegar a terra, o furacão norte-atlântico Michael foi o 4º mais forte de todos os furacões a atingir a América do Norte na série de 1868 anos de observações. O Michael causou mais de 30 mortes e 25 mil milhões de dóilares de prejuízos. No setor ocidental do Pacífico Norte, o super-tufão Mangkhut causou 160 mortes e 6 mil milhões de dólares de prejuízos nas Filipinas, Hong Kong, Macau, China continental, Guam e no norte das ilhas Marianas. A tempestade tropical Son-Tinh foi responsável por 170 mortes no Vietname e Laos. Praticamente todas as ilhas da Micronésia sofreram, pelo menos, impactes moderados de vários ciclones tropicais.
Em terra, mjuitas áreas no Globo registaram valores muito elevados de precipitação em diferentes escalas temporais. As ilhas Rodrigues e Reunião, na África Meridional, registaram os terceiros anos mais húmidos desde que há registo. No Hávai, 1262 mm de precipitação em Wapa Gardens (Kauai) no dia 14-15 de Abril, corresponderam ao novo recorde de precipitação em 24 horas nos E.U.A. No Brasil, Belo Horizonte, registiou quase 75 mm de chuva em apenas 20 minutos, cerca de metade da precipitação média mensal.
Globalmente, a área ardida foi a menor desde que se iniciaram os registos em 1997, com uma área total de 500 milhões de hectares. Este valor reforça a tendência para a redução nas emissões devido a incêndios condicionada por mudanças de uso do solo nas áreas de savana que ardem frequentemente. Contudo, os fogos florestais queimaram 3,5 milhões de hectares nos E.U.A., valor muito superior aos 2,7 milhões de hectares médios anuais para o período de 2000-2010. Combinados, os danos por fogos florestais nos E.U.A. para os períodos de incêndios de 2017 e 2018, superaram os 40 mil milhões de dólares.