Tuktoyaktuk ao final do dia. Nesta época do ano, os dias têm quase 24 horas e há sempre claridade

Tuktoyaktuk – “parece-se com um caribú” – tem estado nas notícias do Canadá e do mundo como uma das povoações do Ártico mais expostas às alterações climáticas. A aldeia localiza-se junto à costa numa planície de contornos irregulares e muito recortada por várias baías e pontuada por inúmeros lagos de termocarso (ligados à fusão do solo gelado). Como tal, está particularmente exposta aos efeitos da degradação do permafrost, subida do nível do mar, aumento do número de tempestades, inundações e da erosão costeira.

Tuk highway vista do helicóptero ao chegar a Tuk, com solos poligonais devido a cunhas de gelo.

Até há 2 anos, Tuk, não tinha acesso por terra de verão e apenas lá se chegava de avião ou de barco, viagens que tinham um custo elevadíssimo. Contudo, foi inaugurado no ano passado o último troço da Dempster highway, uma estrada de terra batida que liga Inuvik a Tuk numa extensão de 148 km. Desde então o afluxo de turistas tem aumentado muito e quem está a trabalhar próximo da estrada vê um vai e vem quase constante (em termos árticos, está claro) de autocaravanas, motos todo-o-terreno e de carrinhas de caixa aberta. Os camiões com gravilha são ainda mais frequentes, num frenesi contínuo de reparação da estrada, que por estar em cima de permafrost, requer manutenção constante. Comparando com a nossa estadia do ano passado, notámos um grande aumento no número de turistas, que respondem também à promoção feita pelo Governo dos Territórios do Noroeste. São muitos aqueles que querem chegar ao “End of the road” e ver o Oceano Ártico.

Daniel Pinheiro e Heather Bay a medir coordenadas de pontos de controle no terreno próximo de Tuk.

O nosso trabalho em Tuktoyaktuk começou no ano passado numa colaboração entre a Universidade de Lisboa (IGOT e IST) e a Natural Resources Canada / Geological Survey of Canada, no quadro do projeto Nunataryuk (www.nunataryuk.org). Este ano, esta colaboração integra-se também no projeto “The acceleration of coastal change: assessment, education, and knowledge transfer towards climate change adaptation in Tuktoyaktuk” em colaboração com o hamlet de Tuktoyaktuk. Um dos objetivos é a cartografia de alta resolução da aldeia para a produção de ortofotomapas detalhados e de modelos digitais de superfície. Estes servirão para cartografar as infraestruturas, desenvolver modelos de inundação e de risco de erosão. Este será o tema da tese de mestrado do Daniel Pinheiro, estudante de Engenharia do Ambiente do IST que estou a orientar em conjunto com o João Canário e Dustin Whalen, e que ficará no terreno até meados de agosto.

Equipa da Universidade de Lisboa em Tuk (Gonçalo Vieira, Daniel Pinheiro, Pedro Freitas e Pedro Pina).

Este ano, focámo-nos em terminar o levantamento aéreo da parte sudoeste de Tuk e levantar pontos de controle no terreno para melhorar a qualidade dos modelos de elevação. O Daniel tem estado a levantar posições de manilhas que fazem a drenagem da água da aldeia entre as várias pequenas bacias lacustres e o oceano, bem como a visitar a aldeia com vários residentes inuvialuit que lhe vão indicando as alturas das cheias em diversos locais e em anos diferentes. Trata-se, essencialmente, de juntar as observações dos habitantes para avaliar e melhorar os resultados da modelação, em particular para as inundações ligadas a fenómenos de storm surge (eventos de tempestade em situação de maré alta e com baixas pressões à superfície que potenciam as inundações). Os nossos modelos de terreno serão comparados com levantamentos aéreos com LiDAR realizados em 2004, de forma a avaliar diferenças na topografia e como estas podem afetar as inundações.

Pedro Pina com o ebee clássico “Suzanne Daveau” que usámos na primeira parte da campanha por avaria do ebee plus RTK