Fiquei chocado com as notícias acerca do bárbaro assassinato na semana passada de duas jovens escandinavas proximo de Imlil, no Alto Atlas marroquino. Eram ambas estudantes numa universidade do sul da Noruega, onde estudavam num curso de turismo de natureza e estavam em Marrocos, provavelmente, a fazer aquilo que mais gostavam, caminhar e descobrir novas culturas. Ainda não é claro, em detalhe, o que se terá passado, mas sabe-se que foi um horrivel crime terrorista. E podia ter vitimado qualquer um.
A notícia tocou-me especialmente, pois trabalho há alguns anos no Atlas marroquino a partir de Imlil, que é a aldeia que dá acesso ao Monte Toubkal, a mais alta montanha do Norte de África, com 4167 metros de altitude. É uma região a apenas 1 h de carro desde Marraquexe, com paisagens fantásticas e onde a população, maioritariamente Amazigh, vive da agricultura, da pastorícia e, cada vez mais, do turismo.

Estive em Imlil em 2013, 2014, 2015 e 2016, e tenho tido saudades e vontade de regressar. A aldeia foi a base dos trabalhos que realizei sobre o permafrost do Atlas, tema de grande interesse cientifico e que carece ainda de uma abordagem muito mais aprofundada, para a qual espero conseguir financiamento, daqui a não demasiado tempo.

Mas escrevo para dar conta da minha solidariedade com Imlil e com o seu povo, e para contribuir para a Iniciativa “Estamos com Imlil”, levada a cabo pela associação local de Guias de Montanha e pelo meu amigo Mustapha Asquarray. É uma iniciativa que visa manifestar a amizade e a confianca com um povo que vive nas dificeis condições do Alto Atlas e que encontrou no turismo uma forma sustentável de desenvolver a economia local. A região tem tanto para oferecer e agora, quando começavam a recuperar do impacte negativo da crise na Europa e, em particular, no mercado espanhol, espero sinceramente que a região não se veja afectada pela quebra de confiança que pode vir associada a um crime como este. Os Amazigh do Atlas recebem-nos de braços abertos e Imlil precisa de nós. Só trabalhando em conjunto para combater as desigualdades entre os povos, se conseguem limitar os extremismos radicais, numa missão que deve ser de todos.
Estou com Imlil.
